Como tirar medicina (apesar de) COM 3 filhos pequenos

Olá (tantos meses depois, no meu blog)! :) 

No dia 19 de Agosto último, concretizei a minha inscrição na Ordem dos Médicos e tornei-me na orgulhosa e feliz portadora da cédula número 74177. Foi mais um passo deste caminho e, agora que Agosto já ficou para trás e Setembro está aqui, talvez tenha chegado a hora de partilhar convosco este post, que já ando a marinar há algum tempo. 

Não pretende ser, de todo, uma narrativa presunçosa! É antes uma reflexão muito minha e, de certa forma, um balanço que faço destes anos de curso. A ideia de escrever este post surgiu precisamente numa das várias vezes em que me fizeram a pergunta: como conseguiste tirar medicina com 3 crianças pequenas? Nessa noite, além de ter 'prometido' que ia escrever um post com a resposta, dei por mim a perceber que acabava sempre por responder algo diferente de cada vez que me faziam a mesma pergunta! E percebi também que se assim é, isso acontece precisamente porque foi um conjunto de circunstâncias que permitiram que conseguisse fazer este curso, mesmo com os meus 3 filhos pequenos - quando digo 'mesmo' até pode soar 'apesar de', mas na verdade não tenho dúvidas também de que a nossa força e ânimo vêm deles também, e se calhar este é um ponto importante desta reflexão. 

Ou seja: os meus filhos não são empecilhos, mas antes forças motrizes! Mais à frente talvez percebam melhor porquê.  

Mas vamos lá então ao resumo dos 4 pontos que considero que foram essenciais para que conseguisse realizar esta caminhada. 

- Relativizar, relativizar... 

Esta é talvez a primeira palavra que me surgia quando me questionavam. Ter presente que há coisas mais importantes do que alcançar determinada nota ou determinado feito, que se não correr tão bem agora corre melhor da próxima; estabelecer prioridades, conhecer as nossas potencialidades e as nossas fraquezas e aprender a gerir isso; perceber que nunca vamos saber tudo e que mais importante do que adquirir conhecimento é evoluir como pessoa e como futura profissional. Perceber que estar bem psicologicamente é tão importante quanto estudar muito. 



- Perceber o que é mais importante e concentrar as minhas energias aí


Este ponto está necessariamente ligado ao anterior. Num curso como medicina a informação é virtualmente infinita e podemos sentir-nos assoberbados: como é natural não vamos conseguir alcançar e armazenar todo o conhecimento, muito menos em tempo útil. Assim, sempre fui tentando perceber quais eram os pontos mais importantes em determinado momento, sempre numa perspectiva muito prática, e o que era esperado de mim em diferentes momentos e diferentes contextos. Tal como no primeiro ponto, ter presente que estudar bem é tão ou mais importante quanto estudar muito.  

  


- Conseguir controlar a ansiedade nos momentos mais críticos


Isto também é fundamental! Todos sabemos o quanto a nossa ansiedade nos pode bloquear. Graças a Deus consigo ser uma pessoa mais tranquila do que ansiosa mas, quando as coisas apertam, naturalmente que surge sempre aquele friozinho na barriga! Quando isso me acontece volto ao ponto 1 - relativizar e tranquilizar-me (pensar noutras coisas, por exemplo nos meus filhos!, ajuda muito). Além disso, a idade também traz um pouco da maturidade que nos ajuda a ultrapassar os momentos mais críticos de ansiedade - percebemos que, se calhar!, o mundo não vai acabar ali. 

  


- Ter fé e confiança em Deus


Sem dúvida; está listado em último mas talvez devesse ser o primeiro. Sou uma pessoa de fé, como sabem, e deposito a minha confiança em Deus. Ele não faz os exames por mim mas sei que está comigo e que me ama acima de qualquer coisa, sei que me guia mesmo quando as coisas não estão a correr da melhor forma e que, por isso, melhores dias virão e o pior vai acabar por passar. É uma confiança e uma esperança que não se explica (tentei atrás, mas ainda assim acho que não consegui! :D).   

Costumo dizer que tive sorte em ter oportunidade de fazer este curso nesta fase da vida (se calhar também foi Deus a trocar-me as voltas). Creio, muito sinceramente, que apesar de ser mais cansativo agora numa determinada perspectiva, acabou por ser um caminho trilhado com outra leveza. Se tivesse entrado em medicina com 18 anos, mais jovem e também mais imatura, talvez tivesse sofrido muito mais com a pressão associada ao curso!

Evidentemente que... nunca teria conseguido sem o apoio do meu marido (que me empurrou para tentar medicina de novo, quando me viu tão triste e desalentada como dentista e sem forças para mudar), e sem a ajuda prática de quem ficava com as crianças quando eu precisava mesmo de estudar ou me mandava a sopa nas fases em que tive aulas até às 20h ou mais... estarei sempre, sempre grata!  

Seguem-se agora mais algumas etapas até poder finalmente começar a exercer, e não sei quando voltarei ao blog. Mas pelo menos esta partilha já está feita! Um dia mais tarde espero que os meus filhos possam lê-la e tirar as suas próprias conclusões para a vida.     



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